Enquanto começo a escrever este artigo para vocês, queridos amigos da cultura croata, tomo um chá quente e fresco de melissa do jardim de casa. Minha mãe mora em Svib, o lar da nossa família Bodrožić-Brnić, um sobrenome que pelo menos já o meu bisavô usava. Estamos aqui na montanha com vista para o vilarejo, um vilarejo com poucos habitantes. Diziam que em Svib para saber quantas pessoas moravam aqui, bastaria contar o número de chaminés, porém nem todas das 300 casas com chaminé estão habitada nestes dias. Jovens você não vê, crianças jamais.
O dia tradicional começava cedo com a primeira chamada do galo, porém graças à mudança histórica, não há mais galos incomodando sua paz pela manhã. Mesmo assim, minha avó sempre acorda por volta das seis da manhã. Décadas de hábito não se desfazem fácil. Mas a agricultura quase não mais existe em Svib. As poucas pessoas que ainda plantam fazem isso para si mesmas e vivem até de troca com vizinhos e outros membros da comunidade.
A geração da minha mãe foi embora na década dos 1970 e 1980 e foi, principalmente, para países como Áustria, Alemanha e Suécia, além de alguns terem ido mais longe, até a Austrália e os Estados Unidos. Era normal voltar para as grandes férias de verão para visitarem as suas famílias, mas quem pode hoje ainda tirar quatro semanas de férias e quem ainda tem dinheiro poupado para fazer isso? O sonho de viver fora virou uma necessidade que se tornou uma dependência e uma depressão cotidiana atingiu muitos deles.
Os croatas da minha geração que não tinham a oportunidade de se mudar para o exterior foram para cidades próximas, como Makarska, Omiš e Split, onde as oportunidades de emprego e as condições de vida são um pouco melhores. Em Svib sobraram os velhos. Uma placa avisa do perigo de aposentados cruzarem a rua. Em outras cidades, as placas geralmente mostram para ter cuidado com crianças escolares. Pelo movimento nas ruas durante o dia, você não pode saber se hoje é segunda-feira ou domingo. É tudo calmo.
Mas para quem não foi embora e ficou nas montanhas, a natureza não libera espaço para a tristeza. A primavera chegou e flores selvagens decoram as trilhas de pedra. Borboletas azuis, amarelas e laranjas voam e o zumbir das abelhas acompanha o cochilo da tarde. Zum zum zummmm!
Assim, de manhã, em minha casa, não tenho como não abrir meu pulmão, meu coração e meus olhos para viver esta riqueza da terra que Deus com certeza beijou quando a criou e não tenho como não invejar, mesmo com tudo que falta em termos de conforto moderno, as pessoas que sobraram aqui.
SVIB U MOM OKU!
Kristina Bodrožić-Brnić